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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Prática incessante de FUD

FUD quer dizer Fear, Uncertainty and Doubt. Como o texto na Wikipedia afirma, "é uma prática de marketing que consiste em desacreditar o concorrente espalhando desinformação sobre o produto rival".

Alguns anos atrás, isso era muito frequente em relação ao Linux, talvez por alguns perceberem que a idéia do software livre estava crescendo rapidamente. Assim, apontar falhas, criar descrédito, e outras artimanhas poderiam ser úteis em tentar brecar este avanço.

Com o tempo o Linux foi se firmando, especialmente entre servidores, apesar de tudo de ruim que se dizia sobre o mesmo. E assim, ou a prática do FUD foi sendo menos frequente, ou mais ineficaz.

Depois de muito tempo, eis que um amigo me indica a leitura deste link, que a princípio me pareceu um ressurgir do FUD. Fiquei indignado com a tradução do texto, achando que o autor Robert Strohmeyer pegou pesado na difamação.

Interessantemente, nada achei sobre o link de origem do texto, ou outro link qualquer que apontasse para um site contendo evidências, números, pesquisas, ou qualquer outra informação que sustentasse o que estivesse escrito, como qualquer texto na internet que seja minimamente bem elaborado apresenta. Assim, me dei a pesquisar por este texto na internet, e finalmente achei o texto original.

A triste surpresa foi constatar que o texto original, logo em seu primeiro capítulo, apresentava pesadas diferenças para a versão em português. Vejamos este primeiro capítulo:
Despite phenomenal security and stability--and amazing strides in usability, performance, and compatibility--Linux simply isn’t catching on with desktop users. And if there ever was a chance for desktop Linux to succeed, that ship has long since sunk.
Agora o primeiro capítulo de sua versão em português:
Estamos aqui reunidos para dar adeus às intenções do Linux de se tornar um sistema operacional para desktops competitivo.
Impressionante diferença, mesmo se considerarmos que o versionista tenha dividido o primeiro capítulo original em dois. Assim, segue o segundo parágrafo da versão:
Ele deixa para trás segurança, estabilidade e grandes avanços de usabilidade, de performance e de compatibilidade. Deixará, também, saudades e uma legião de fãs que, simplesmente, não vê mais porque usar o sistema, filho de Linus Torvald e do Minix, do Unix e de outros queridos membros da família *x.
O texto original se vale da metáfora de um navio afundado, o que remete a um acidente, enquanto o versionista supõe um enterro (o que vai confirmar em parágrafos posteriores), o que é associado como algo que não tem volta.

Enquanto o autor original usa o termo despite (apesar de) para abrir uma frase elogiosa, onde se ressalta umas tantas virtudes do Linux, antes de mais nada, ou seja, valorizando o SO, o versionista menciona de modo resumido estas características apenas depois de um velório metafórico (estamos aqui reunidos para dar adeus ...). Esta alteração na ordem favorece a indução do leitor a priorizar a "morte" ao longo de sua leitura.

Alguns elementos são incluídos pelo versionista, como a "legião de fãs". Mais adiante, o autor menciona "while arguably surpassing Windows and Mac OS in both security and stability", elevando o valor do Linux diante do Windows e do MacOS, enquanto o versionista diz "O Ubuntu 10.10 também ultrapassou aos primos Mac OS e Windows nos quesitos de segurança", expressando a superação com muito menos ênfase.

Para encerrar estas sutilezas de escrita, chamo atenção para o seguinte parágrafo do autor:
I should emphasize that I'm not by any means talking about the demise (falecimento) of Linux itself. New projections from the Linux Foundation credibly show that demand for Linux on servers will outstrip demand for all other options over the next few years.
Interessantemente, o autor aqui se desvia da imagem fúnebre. E não encontrei correspondente para a primeira frase do autor, no parágrafo acima, no texto do versionista, publicado na IDGNow.

Outra coisa que pude notar foi a riqueza de links sobre os quais o autor apóia seu texto. Impresionantemente, estes mesmo links (ou outros, ja que o texto versionado está bem distante do original) sequer constam no texto em português. Assim, fica ainda mais parecido com os famosos "achismos", o que desmerece ainda mais este texto.

Conclusão
Infelizmente, uma mudança como esta acaba trazendo impactos tremendamente negativos ao Linux. Eu firmemente nem acredito que Linux seja um competidor para Windows ou MacOS (em português sugeridos como primos). Há espaço para todos, o que faz com que este esforço em desmerecer o Linux mostre como a concorrência (se é que haja alguma) está preocupada com o que estão vendo.

Creio mesmo que o MacOS e o Windows precisam existir. Apenas que sejam adquiridos legalmente, e não em cópias de "dérrrreau", obtidas em esquinas. Se você quiser uma cópia do Linux para testar em sua máquina, eu te dou uma que é 100% utilizável, e sequer altera teu HD, garantindo a integridade de teus dados. Se você não gostar, paciência. Afinal de contas, eu também não gosto de usar Windows e nem por isso deixamos de ser amigos. Mas também não vou falar mal dele, como a IDGNow permitiu que fosse falado aqui. Bom, com os amigos talvez só um pouquinho ...

Tenho alunos que me perguntam se esta ou aquela revista é viável, ou tem bom conteúdo. Eu pessoalmente tenho uma lista de revistas que eu não recomendaria a ninguém, e a IDGNow, com esta demonstração de expertise em crição de FUDs, está querendo fortemente ser uma candidata a ocupar lugar de destaque nesta minha lista.

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